domingo, 6 de abril de 2008

Adolescentes no cinema

MENINAS de Sandra Werneck

Por Livia Brasil

criticas@cineclick.com.br

Meninas marca a volta de Sandra Werneck aos documentários. A cineasta ficou conhecida por filmes como Amores Possíveis e Cazuza - O Tempo Não Pára, mas muita gente não sabe que começou sua carreira retratando temas sociais como prostituição infantil e crianças de rua.
Neste longa-metragem, Sandra retorna às raízes e acompanha o cotidiano de adolescentes grávidas durante um ano.
Inicialmente, pode parecer uma idéia monótona com um discurso moralmente correto e cansativo, mas o filme é completamente o oposto.
Ele mostra uma realidade aparentemente conhecida por todos, com uma visão diferente sobre a gravidez precoce, sem mostrar diretamente o que é certo e errado, nem apontar o dedo na cara de ninguém, apenas a verdade.
São quatro meninas com histórias diferentes, todas do Rio de Janeiro e grávidas na adolescência. Evelin é uma das meninas que, aos 13 anos, engravidou do namorado de 22 anos, ex-traficante. Moradora da Rocinha, ela não deixa sua vida de lado e continua freqüentando o baile funk. Edilene tem 14 anos e já vive um triângulo amoroso: o pai de seu filho também engravidou a vizinha e a ex-namorada Joice, de 15 anos.
Sua mãe também está grávida, pois achava que, em razão da idade, não seria mais fértil e, portanto, não precisava se cuidar.
A história de Luana, de 15 anos, talvez seja a mais inusitada. Ela vive em uma casa com a mãe e quatro irmãs. Por ser a mais velha, Luana sempre ajudou a criá-las e, por esse motivo, queria ter um filho só para ela, ou seja, a gravidez foi totalmente planejada.
Apesar de parecer abordar um tema já bastante discutido, Meninas mostra que ainda há muito o que ensinar, questionar, aprender e fazer.
O universo abordado é o de garotas de uma classe social menos favorecida, mas poderia ter sido em qualquer lar, independente da renda.
No documentário, vemos que não basta alertar sobre o uso da camisinha.
O debate vai além: ainda falta muita informação. Os depoimentos são envolventes e criam uma relação de intimidade entre as garotas do documentário e o espectador, principalmente pela maioria das locações serem as próprias casas.
No início de Meninas, há uma timidez geral nítida, mas depois elas se soltam e passam a usar a câmera como uma espécie de diário, falando sobre tudo, desde namoro, escola, família até medos e ansiedades, de forma muito natural, enquanto lavam louça ou escolhem uma roupa para sair.
É este tipo de longa-metragem que transforma o cinema em um meio de educação social.
Não basta apenas mostrar situações constrangedoras e caricatas de adolescentes - muito comuns nas comédias americanas -, que podem até ser um bom entretenimento, mas que não acrescentam nada ao público.
Filmes como Meninas são necessários, pois, além de ser uma boa diversão, possuem um excelente conteúdo informativo

Um comentário:

Anônimo disse...
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